Objetos "acima de qualquer suspeita" como copos plásticos, parafusos e chapéus podem causar sérios danos às aeronaves.
Como na grande maioria dos processos causais de incidentes ou acidentes aeronáuticos, o problema FOD (Foreign Object Damage ou Dano por Objeto Estranho) se caracteriza pelo grande paradoxo entre a simplicidade do fator causador e o gigantismo de suas conseqüências.
Um pequeno parafuso pode destruir uma turbina de centenas de milhares de dólares e um mero desleixo, como esquecê-lo na entrada de ar do motor pode ser a origem de um acidente que resulte na destruição da aeronave e na morte de seus ocupantes.
No Brasil, onde diversos fatores propiciam a ocorrência de FOD (operações em pistas não preparadas, vôos em regiões de alta salinidade ou grande incidência de pássaros nas áreas de tráfego, por proximidade de matas ou depósitos de lixo) e onde uma doutrina para sua prevenção ainda se faz incipiente, reveste-se da maior importância o trabalho a ser desenvolvido com o foco na prevenção.
A atividade da prevenção de FOD pode resultar não somente numa significativa redução de custos, mas, antes de tudo, no decréscimo da possibilidade de ocorrência de acidentes aeronáuticos - objetivo maior de nossa atividade.
A seguir, conheça alguns tipos de agentes que podem causar Foreign Object Damage, mais especificamente, nos motores de uma aeronave:
· Objetos Metálicos: A ingestão de objetos metálicos costuma causar danos de grandes proporções. Devido à sua resistência, mesmo que o objeto se reduza pela sucessão de impactos ou venha a se derreter parcialmente quando da passagem pela parte quente, ele deixará danos que se estendem por grande parte do motor e até na turbina.
Os sinais de seus impactos são como "mordidas", cortes ou até quebras de palhetas, com dimensões que variam conforme o tamanho e a resistência do objeto. Normalmente os estragos tendem a atingir um maior número de palhetas do compressor à medida que se adentra no motor (como um cone), uma vez que pedaços de palheta ou do próprio objeto passam a ser novas fontes de dano.
Uma situação perigosa ocorre quando o objeto não causa danos perceptíveis à entrada de ar ou aos primeiros estágios do compressor, dando a impressão de que pouco ou nada ocorreu, mas podendo provocar grandes danos nos estágios seguintes.
· Pedras ou pedaços de piso: Quando ingeridos, pedriscos ou pedaços do asfalto ou do concreto dos pisos dos pátios e pistas costumam causar alguns danos. Porém, por se desintegrarem aos primeiros impactos, esses objetos limitarão seus estragos aos primeiros estágios do compressor e serão menos danosos aos estágios posteriores.
· Gelo: Os danos causados pela ingestão de gelo assemelham-se àqueles causados pela ingestão de pedriscos, uma vez que têm grau de dureza semelhante. Raramente, podem ocorrer situações em que devido ao volume e ao tempo de exposição ao gelo, sejam provocados danos maiores. Já o Blue Ice, que se forma a partir do congelamento de líquido vazado dos sistemas sanitários, tem elevado potencial de risco, principalmente quando o vazamento ocorre abaixo dos sanitários dianteiros das aeronaves e, portanto, à frente dos motores, já que os cristais podem chegar a tamanhos consideráveis.
· Objetos macios: A ingestão de objetos macios pode provocar danos maiores que os que se poderia esperar. Chapéus, copos descartáveis e papéis poderão alojar-se entre os rotores provocando grandes esforços e, conseqüentemente grandes distorções.
· Água: A ingestão de grandes volumes de água pode causar danos às IGV's e primeiros estágios do compressor com características que podem ser confundidas com as ocorrências de gelo. O estol do compressor é a conseqüência mais comum desse tipo de ocorrência.
Agora, vamos mostrar como objetos estranhos podem provocar danos também em outros sistemas ou componentes da aeronave e que, assim como dos casos em que o motor é atingido, podem ser responsáveis por acidentes aeronáuticos.
Danos aos pneus - Trata-se de uma ocorrência tão corriqueira que, geralmente, pouca atenção lhe é dedicada. Mas o problema se reveste das duas características que impulsionam a atividade da prevenção: alto custo e elevado potencial de perigo.
Para uma empresa aérea de médio porte, o custo decorrente da perda de pneus, por não apresentarem as condições mínimas para o trabalho de recauchutagem, podem chegar a centenas de milhares de dólares por ano.
O risco de se perder o controle da aeronave durante o pouso devido a FOD existe e não deve ser desconsiderado. Evidentemente, o risco associado à ocorrência de FOD nas rodas não se resume aos pneus. Há, por exemplo, registros de objetos que causaram danos aos sistemas de freio atingindo o disco e mesmo as tubulações hidráulicas.
Contaminação - Outra ocorrência de FOD extremamente comum, mas não menos perigosa, é a contaminação de sistemas por objetos ou mesmo produtos (gases e líquidos) estranhos àquele meio.
São exemplos comuns a contaminação do combustível por água, do óleo por partículas metálicas ou mesmo do oxigênio por outros gases ou fungos. Todos com elevadíssimo potencial para a ocorrência de um acidente.
Colisão com pássaros - São muito comuns, especialmente no Brasil, quando consideramos as dimensões e o peso dos pássaros mais comumente envolvidos nos casos de colisão em vôo: o urubu, que pode chegar a 2,5 quilos. É que a problemática tem como chave o produto "massa X velocidade", que graças à velocidade da aeronave transforma o pássaro em algo parecido com um projétil de artilharia.
Interferência de objetos soltos na cabine - Isso mesmo! Objetos soltos na cabine, como uma simples caneta ou prancheta, podem caracterizar FOD. Como exemplos, podemos citar a ocorrência de um piloto que perdeu o comando da aeronave devido a uma prancheta caída à base do manche , ou da perda de controle direcional no solo, devido à interferência de uma caixa elétrica esquecida pela manutenção no piso, atrás dos pedais. Ambos casos em que a simplicidade do fato não reduz o potencial de risco de suas conseqüências.
Interferência de Objetos em outros sistemas - Os serviços de manutenção podem se tornar fontes potenciais de FOD às aeronaves de sua própria organização, quando realizados com displicência e falta de supervisão.
Já se tornou famoso, por exemplo, o caso apresentado em filme, em que um alicate é esquecido pelo mecânico à entrada de ar de uma aeronave pouco antes de um vôo, e que acaba por ocasionar a queda do avião. Há casos de menor custo, mas não de menor potencial de risco, em que a ferramenta foi esquecida no interior da estrutura da aeronave (asa) e provocou o travamento dos cabos de comando do aileron. As possibilidades são as mais diversas.
Prevenção
O trabalho de prevenção do FOD depende em grande parte da manutenção, inspeção e limpeza do avião e do ambiente que o cerca. Porém, na operação da aeronave algumas medidas também podem ser decisivas para se evitar FOD.
Durante a operação da aeronave no solo, deve-se evitar o uso de potências mais elevadas, com o intuito de evitar o "sopro" de detritos para a área de operação ou para a entrada de ar de outras aeronaves.
No táxi, deve-se evitar a realização de "cortes" nas curvas, de forma a evitar que os motores passem sobre as áreas não pavimentadas. Isso contribui para a prevenção do FOD tanto para a aeronave que taxia quanto para as que a seguirão. Especial atenção deve ser dedicada às aeronaves de grande envergadura e com motores afastados da fuselagem, pois em muitos casos, mesmo realizando-se um táxi sobre a "faixa-guia" poderá acontecer dos motores externos não estarem sobre a pista.
A preocupação com relação ao sopro da aeronave em operação deve estar presente na delimitação dos pontos de estacionamento (distanciamento dos boxes) e na marcação das faixas de táxi do piso. Deve-se evitar o táxi próximo da aeronave que o antecede.
O táxi com o canopy aberto é um procedimento que deve ser sempre evitado face ao risco de objetos - especialmente cartas - serem soprados para fora e ingeridos pelos motores. Diante da necessidade de fazê-lo, deve-se certificar da fixação destes no interior da cabine. A decolagem em formatura é uma situação de elevado risco de FOD para as aeronaves de trás - o máximo de atenção é sempre recomendado.
O uso de protetores de entrada de ar nos motores das aeronaves estacionadas, tanto em pátios como em hangares, em sede ou não, é fundamental para a redução do risco de danos por objetos estranhos (detritos soprados, acúmulo de chuva, presença de pequenos animais etc). Por outro lado, a inspeção de pré-vôo ou mesmo a "externa" não podem ser negligenciadas, sob o risco de se fazer do próprio protetor instalado o objeto ingerido.
Fonte: hangardoheinz.blogspot.com
Photo by: sizor.com/raf-upper-heyford.org/Google Image.
Nenhum comentário:
Postar um comentário